terça-feira, 2 de agosto de 2011

Travessia



Desde que abrimos nossos olhos ao amanhecer fazemos uma travessia entre o mundo de sonhos e o dos vivos, entre utopia e realidade, entre dúvidas e certezas. Estamos sempre prestes a atravessar. Um caminho, um rio, uma estrada, quase sempre inundados de incertezas que povoam nossos pensamentos. Estamos sempre prestes a escolher, uma roupa, um penteado, uma cor, um par. Vivemos como as ondas a balançar docemente sobre o mar de um lado ao outro. Estamos sempre atravessando essa porta que se chama tempo e de instante em instante... Atravessamos...
Atravessamos os desenhos da infância para o mundo da fantasia... E entramos nas historias encantadas, e até damos gargalhadas... Atravessamos a febre da mocidade onde tudo é fogo e paixão... Onde tudo é intenso por que simplesmente atravessamos sem a consciência que chegaremos à outra margem onde pode haver frio, deserto e escuridão.
Atravessamos...
... E vamos entre quedas e recomeços... Entre tropeços... Entre lágrimas e soluços... Atravessamos essa jornada que parece infinda a cada respirar, e de repente olhamos para trás e nos surpreendemos com tudo quanto atravessamos... O frio, o abandono, a pobreza, os sonhos, as moradas, as paradas, as despedidas, os fins e os meios e tudo que simplesmente atravessamos... flores... relva... espinhos...
Tão certa essa travessia marcada com as migalhas, não do pão, mas do coração que foi ficando na esperança de se marcar a beira da estrada.
 E quando chegamos ao fim... Atravessamos a imagem pelo espelho sem entender a travessia e na certeza de que é chegada a despedida e então nos deparamos com os mesmos olhos... e os cabelos alvos... olhamos as mãos da idade... atravessamos os dias de forca e vitalidade... e nos vem como filme... doce lembrança, a travessia...
E simplesmente viajamos pela lembrança de cada riso, cada sonho, cada brilho de uma estrela... cada onda do mar quebrada... cada pegada deixada... cada sabor e cada cheiro... cada segundo de alegria respirada... já não se lembra a dor... por que chega ao fim a luta... já podemos ver a outra margem... e logo ali adiante no final da travessia, o último fechar de olhos, o último risco de luz, o último som... o último instante...   enfim o lar.

          Paulo de Tarso  (I Cor. 13:12-13)

"Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor." 

2 comentários:

  1. Que lindo amiga, melânclico sim mas ao mesmo tempo perfeito. Amei!

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  2. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.

    Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.

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